terça-feira, 6 de março de 2007

Eva Péron




María Eva Duarte de Perón, popularmente conhecida pelo hipocorístico Evita, (província de Buenos Aires, 7 de Maio de 1919Buenos Aires, 26 de Julho de 1952) foi uma atriz e líder política argentina. Tornou-se primeira-dama da Argentina quando o generalíssimo Juan Domingo Perón foi eleito presidente.
Ainda existem dúvidas sobre o local de nascimento de Eva, em seu registro de nascimento resulta que foi na cidade de Junín na província de Buenos Aires. Todavia, existem fortes indícios de que na realizada nasceu em uma estância, sessenta quilômetros ao sul de Junín, próximo ao povoado de Los Toldos (no município de General Viamonte). Com dezesseis anos, decide seguir a carreira artística e muda-se sozinha para a capital argentina. Em 1937 estréia no cinema no filme Segundos Afuera e, em seguida, é contratada para fazer radionovelas.
Em 1944 conhece Juan Domingo Perón, então vice-presidente da Argentina e ministro do Trabalho e da Guerra. No ano seguinte, Perón é preso por militares descontentes com sua política, voltada para a obtenção de benefícios para os trabalhadores. Evita, então apenas a atriz Eva Duarte, organiza comícios populares que forçam as autoridades a libertá-lo. Pouco depois se casa com Perón, que se elege presidente em 1946.

Famosa por sua elegância e seu carisma, Evita conquista para o peronismo o apoio da população pobre, na maioria migrantes de origem rural a quem ela chamava de "descamisados". Morreu aos 33 anos, de câncer uterino. Embalsamado, seu corpo fica exposto à visitação pública até que, durante o golpe de Estado que derruba Perón em 1955, seu cadáver foi roubado e enterrado em Milão, Itália. Dezesseis anos mais tarde, em 1971, o corpo foi exumado e transladado para a Espanha. Alí foi entregue ao ex-presidente Perón, que vivia exilado em Madri. Após a morte dele, o corpo regressou a Argentina onde foi exposto novamente por um breve período. Foi então enterrada novamente na abóbada da família Duarte no cemitério de la Recoleta, na cidade de Buenos Aires.

No Cemitério de la Recoleta encontra-se o jazigo da Família Duarte.

Evita e Péron
Perón volta à Argentina em 1973 e é reeleito presidente, tendo a terceira mulher, Isabelita, como vice. Após sua morte, em 1974, Isabelita traz o corpo de Evita para a Argentina e os sepulta em Buenos Aires.
O mais impressionante na história da vida de Eva foi o caminho meteórico que ela percorreu na sua vida pública. Entre a total obscuridade ao mais absoluto resplendor pessoal e político de sua vida e em seguida sua morte, tudo ocorreu em apenas 7 anos. Nesse curto período ela saiu do mais humilhante anonimato para se tornar uma das mulheres mais importantes e poderosas do mundo. Na sua breve existencia (morreu aos 33 anos de idade) há muitos mistérios, muitos fatos obscuros mas há principalmente uma personalidade tragicamente marcante. Sua infância em Los Toldos e depois em Junin de Los Andes foi pobre, mas digna. Sua mãe, Juana Ibarguren, era uma costureira obsessiva com limpeza, extremamente organizada e amante do estancieiro Juan Duarte, que tinha outra família, legítima, em Chivilcoy, com outros 6 filhos. Depois da morte de Juan em um acidente de automóvel, Juana muda-se com os filhos, todos dele, para Junin para fugir das humilhações de sua condição de amante. O estancieiro registrou como seus todos os filhos bastardos que teve com a costureira. Curiosamente não registrou Eva e muitos historiadores relacionam esse fato, tido como uma frustração para Evita, aos condicionantes psicológicos que a levariam a buscar afirmação e sucesso na vida.


Evita e PerónTalvez por isto, já no poder, era muito marcante seu traço de valorização dos laçoes familiares dos pobres argentinos. Quando Juan Duarte morreu, Juana e seus filhos com ele, Eva, Juancito, Elisa, Blanca e Erminda, todos ainda muito pequenos, sairam da zona rural onde moravam para visitar o pai morto e dar-lhe o último beijo. Foram escorraçados do velório pela viúva e pelos filhos legítimos dele. Juana bateu o pé e insistiu que seus filhos tinham o direito de beijar o pai morto. Depois de negociações e para evitar bate-boca numa cerimonia fúnebre, foi-lhes permitido que o fizessem, na condição de em seguida sumirem dali. E foi o que fizeram. Depois disso Juana arruma suas trouxas e se muda com seus filhos com Juan para Junin de los Andes, na província de Buenos Aires. Nessa época Eva, como toda adolescente provinciana, sonha em ser artista, ser uma estrela do teatro, do cinema. Eva tinha verdadeira paixão pela atriz norte-americana Norma Shearer, seu modelo de mulher e de artista desde a infância. Assistia dezenas de vezes seus filmes no cineminha de Junin e jurava para si mesma que ainda teria uma casa com telefones brancos e lençóis de cetim, como Norma nos filmes, sem se permitir, é claro, um mínimo de visão crítica que lhe desse conta de que aquilo tudo era apenas de celulóide e nada mais.
Saía das sessões com as as mãos suadas e com os olhos revirados. Mas foi imbuida desta vontade de vencer, de ser Norma, de rolar com meias longas de seda com costura atrás, cabelos louros cacheados, sobre altos colchões de mola e lençóis de cetim rosa e principalmente de ter uma identidade que a bastardia lhe roubou, que a estimulou a deixar Junin e partir para tentar a carreira de atriz em Buenos Aires. Em janeiro de 1935, com apenas quinze anos de idade e acompanhada de Agustín Magaldi, cantor de tangos e amigo da família, considerado o Gardel do interior argentino, Eva parte para a capital com uma malinha contendo suas poucas roupas, talvez apenas com um vestido " de sair " e mais uns trapinhos cuidadosamente lavados e engomados por Dona Juana.
Em Buenos Aires foi morar com Juancito, seu irmao que servia o exército na Capital e já trabalhava como vendedor numa fábrica de sabão. Levavam uma vida difícil, simples, entre as obrigações da sobrevivência e fins de semana em botecos. Quando sobravam uns trocados desfrutavam o prazer de um puchero regado a cerveja Quilmes com os amigos da cidade grande. Eva passava o dia a procura de trabalho em rádios, revistas e, principalmente, tentando cavar um chance de trabalhar no teatro e no cinema. Depois de passar fome, se submeter aos assédios de canastrões e cafajestes gordos e suarentos do mundo artístico que lhe prometiam chances condicionadas a algumas horas nas camas vagabundas de pensões portenhas, Eva acabou por ter a sua primeira chance concreta no cinema, no filme Segundos Afuera. Nesse filme, no qual teve um papelzinho secundário e obtido graças à intervenção de Emilio Kartulowicz, dono da revista Sintonía ela teve chance de mostrar ao mundo artístico argentino sua total falta de talento para a carreira de atriz. Mas como o destino sempre se impõe, foi na sua relação com este mundo que ela teve sua grande chance: conhecer um coronel chamado Juan, o mesmo nome de seu pai, de seu irmão, de sua mãe, de sua sogra, de sua parteira e da cidade que motivou o encontro do casal: San Juan. Era o Coronel Juan Domingo Perón. San Juan havia sido atingida por um terrivel terremoto.

Evita do desengate do estado em Espanha, com Franco
O Coronel Perón, vice-presidente da República e Ministro da Guerra e Chefe da Secretaria de Trabalho e Provisões, organizou, no ginásio do Luna Park, em Buenos Aires, um evento artístico para angariar fundos para as vítimas do terremoto. Eva, que nessa época já tinha um programa de rádio onde declamava versos, participava de rádio-novelas e falava sobre a biografia de mulheres famosas, foi ao evento acompanhada de uma amiga com quem dividia um quarto de pensão. No evento Eva se aproveitou de um ligeiro descuido de uma outra atriz principiante que se sentava ao lado do Coronel na primeira fila de cadeiras. Ela precisou se levantar e Eva sentou-se nesta poltrona, ao lado do vice-presidente. Encantada e embevecida por ter ao seu lado aquele homem de 1,90 de altura, porte atlético, sorriso irresistível e envergando um uniforme militar branco impecavelmente passado, ficou com as mãos suando, trêmula, mas segura o bastante para dizer a ele a frase que provavelmente tenha servido para mudar a história da Argentina pelos futuros 40 anos:"-Coronel, obrigada por existir." Era 22 de janeiro de 1944.
O escritor argentino Tomás Elóy Martínez, autor de "Santa Evita",(1)


garante que essa frase nunca foi pronunciada assim como outra também atribuida a Evita e até inscrita em bronze em seu túmulo: "Voltarei e serei milhões". Embora defenda esse ponto de vista, o escritor acha que isso pouco importa pois escrever a História difere pouco de inventar história e que a realidade e a ficção, principalmente na América Latina, se confundem.
Em 1945, durante a festa de comemoração de seus 50 anos, Perón, em companhia de Eva, Juancito, Domingo Mercante além de alguns poucos casais e amigos ouve soar a campainha da porta de entrada de seu apartamento. Já sem gravata e em mangas de camisa branca o coronel vai atender a porta. Nesse momento o apartamento é invadido pelo Cel Ávalos que, em marcha, informa ao aniversariante, fria e formalmente, que não havia mais como o exército dar-lhe apoio político e que sua indicação do amigo Nicolini para os Correios fôra a gota dágua. No bolso da camisa branca de Perón, que tinha as mangas arregaçadas até o cotovelo, se via o alfinete da caneta de pena de ouro há pouco recebida como presente de aniversário de Juan Ramón Duarte, o Juancito. Depois da saída do coronel Ávalos, Perón disse a Juan, com um sorriso enigmático: -parece que seu presente veio em boa hora. Pelo jeito vou precisar usá-la para assinar minha renúncia. Embora Juancito não conseguisse naquele momento entender como poderia alguém dizer uma frase dessas com um sorriso nos lábios, seu sangue gelou e sentiu que iria desmaiar. Juancito ainda não havia descoberto como decifrar essa carta enigmática, a juntar as peças desse quebra-cabeças que atendia pelo nome de Juan Domingo Perón.
Poucos dias depois Perón foi preso por ordem de Edelmiro Farrel, entao presidente provisório da República. A revolta popular foi incontrolável e o presidente viu-se com uma batata quente nas mãos. Fraco e adoentado, Farrel, vendo a temperatura política subir rapidamente resolveu trasladar Perón da prisão para o hospital militar em Buenos Aires onde ficou custodiado. Dali Perón negociou e impôs condições para sua própria libertação. Político habilíssimo usou sua prisão como fórmula de vitimização e de mobilização popular a seu favor. Eva, desesperada, mergulhou de cabeça numa campanha furiosa, desenfreada e descabelada pela libertação de Perón. Dois dias depois e onze dias após sua prisão, era possivel ver de novo, na sacada do Palácio do Governo um vulto acenando para a multidão de dezenas de milhares de simpatizantes, sorriso nos lábios, os dois braços ao alto. Era Perón! Livre!


Perón, um homem das planícies da Patagônia, um solitário que nunca deixava saber exatamente o que sentia, tinha uma personalidade peculiar e ambígua. Era uma pessoa externamente e outra, que nem ele conhecia bem, internamente. Sempre sorria, conquistava pelo sorriso, mas o que lhe marcava a complexa e ao mesmo tempo tôsca personalidade era o olhar, o olhar do caçador de guanacos. Animal típico da Patagônia, o guanaco exigia de seu caçador extrema habilidade em dissimular. Para fugir de sua cusparada venenosa o caçador precisava distrair o animal, fazer algum gesto ou movimento para desviar seu olhar. Só assim seria possivel abatê-lo. Como hábil caçador de guanacos, o coronel Perón ouviu a declaração encantada de Eva no Luna Park. Só não sabia que também ela era uma caçadora proverbial de guanacos e naquele momento pactuou-se ali uma sociedade de idéias e interesses que os levou aos limites do poder, da glória, da riqueza e por fim, da ruína, da desmoralização mas jamais do esquecimento e da indiferença. Os nomes de Eva Perón, a Evita, e Juan Domingo Perón impregnaram-se de forma definitiva no imaginário do povo argentino, como ocorre com nossas imagos mais primitivas, lembranças arquetípicas indeléveis como os registros do DNA em nossas células. Por causa de sua personalidade arrebatada e por ser uma defensora incansável dos pobres, miseráveis e explorados Eva muitas vezes foi confundida como sendo uma militante de esquerda , embora nunca o tenha sido. Ela rejeitava ferrenhamente este rótulo, tendo inclusive muitas vezes se indisposto com os comunistas ortodoxos da Argentina, que viam na sua ação assistencialista até mesmo um fator de atraso nas conquistas da classe operária. O voto feminino, por exemplo, reivindicação histórica das mulheres comunistas argentinas, foi implantado por um golpe de voluntarismo de Evita. Isso irritou profundamente a militância comunista, como Julieta Lanteri, Carolina Musill, Victoria Ocampo, Alicia Moreau, que defendiam a tese de que a conquista deveria ser historicamente conduzida.Quando a lei do voto feminino foi sancionada por Perón elas disseram: "agora não queremos mais votar". Estas divergências não impediram, depois de sua morte, que as bandeiras que ela defendia de ódio aos ricos e poderosos, que ela chamava de oligarcas e da mais absoluta e intransigente defesa dos pobres e oprimidos fossem violentamente disputadas pela direita, pelo centro e até pela extrema esquerda personificada no grupo guerrilheiro Tupamaro. No entanto, para esses pobres que ela carinhosamente chamava de grasitas, Evita nunca foi uma lider ideológica. Para eles ela era muito mais. Era mais que a mulher do grande Perón, mais que uma benfeitora, mas a lider espiritual da nação argentina, quase uma santa. Essa ambigüidade conceitual foi sabiamente usada por todas as correntes ideológicas argentinas que usaram o justicialismo peronista para chegar ou tentar chegar ao poder depois da chamada Revolução Libertadora, o golpe de Estado que depôs Perón em 1955.
Eva Perón foi, na verdade, a única voz retumbante no coração do povo pobre e trabalhador da Argentina; foi, para os miseráveis, a única referência confiável e capaz de unir, se quisesse, com um gesto apenas, todas as vontades em uma só, todas as vozes em uma só, a voz do povo explorado e expoliado pela classe rica e insensível às suas necessidades mais elementares. Este milagre, só Evita conseguiu operar.

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