domingo, 4 de março de 2007

Margarida de Abreu








Nasceu em 1915. Coreógrafa portuguesa, nascida em Lisboa. Estudou em Genebra, Viena, Londres e Berlim, começando a ensinar no Conservatório Nacional em 1939, sendo identificada com a fundação do ballet clássico em Portugal. Criou o Circulo de Iniciação Coreográfica em 1945 e dirigiu o Grupo de Bailados Verde Gaio.








Uma precursora do ensino da dança e pioneira da formação profissional




Alguns chamam-lhe a Ninette Valois portuguesa. Mais do que professora, Margarida de Abreu foi a grande precursora do ensino da dança em Portugal. Morreu, ontem em Lisboa, depois de 60 anos de actividade consagrada a esta arte também como coreógrafa. Contava 90 anos.Filha de António de Barros de Abreu - advogado e cunhado de Afonso Costa, figura cimeira da primeira República - e de Helena Hoffmann, de nacionalidade suíça, professora de Francês, Alemão e Piano, Margarida de Abreu não só abre a sua própria escola, em 1938, na Casa dos Açores à Rua Castilho como cria, em 1944, o Círculo de Iniciação Coreográfica que vem a traçar um caminho paralelo ao grupo de bailado Verde Gaio, dirigido por António Ferro e Francis Graça, a cujo destino também presidirá.Embarcará para Genève, aos 17 anos, onde frequentará o Instituto Dalcroze que inventara a rítmica. O seu método, do cruzamento entre o tempo, o espaço e a energia, será marcante na visão da dança de uma professora que desejava que esta arte fosse "música feita poesia", harmonia do movimento. Viria a prosseguir os estudos na Alemanha, na Deutsche Tanz Schule, em Berlim, e depois na Hellerau Laxemburg Schule, em Viena de Áustria. Estagiou no domínio do ensino, nos anos 40, na Sadler's Wells, em Londres, hoje Royal Ballet.




Manifesto




Autora de um manifesto em defesa da dança como forma de arte, onde explicita também as suas ideias quanto ao ensino, Margarida de Abreu deu aulas no Conservatório Nacional, onde o seu nome, de acordo com Ana Caldas, directora da Companhia Nacional de Bailado (CNB) e ex-presidente da Escola de Dança do Conservatório Nacional (EDCN) ,"jamais será esquecido". O estúdio onde Margarida de Abreu leccionou durante quase 50 anos tem uma lápide em sua homenagem."Considero Margarida de Abreu uma figura incontornável do bailado português que directa ou indirectamente lançou as bases para que a dança em Portugal se tornasse numa realidade, tanto no que se refere às companhias que viriam a nascer como à dignificação do ensino que permitiu que estas se desenvolvessem,"fez questão de sublinhar. Wanda Ribeiro da Silva, professora, durante largo tempo, dos cursos de formação de bailarinos da Fundação Gulbenkian e ex-presidente da Escola Superior de Dança, salienta que Margarida de Abreu sempre foi "um exemplo de amor e de perseverança"; ou seja, serviu a dança, nunca se serviu dela.Não tendo sido sua aluna, Wanda Ribeiro da Silva releva a cultura e os conhecimentos musicais de Margarida de Abreu, bem como a sua "grande abrangência de gosto" que aliava a "um saber profundo de emoção": "Cedo percebeu que tinha de abrir-se à pedagogia da dança, mas igualmente à formação profissional", refere. Ao CIC pertenceu Águeda de Sena, também sua aluna, que a considerava "muito avançada para a época": "Devo-lhe muito."No cinema, foi a coreógrafa de Amor de Perdição, Francisca e Os Canibais, de Manoel de Oliveira. Entre outras distinções, mereceu a medalha Almeida Garrett (1980), também pela sua ligação ao teatro.








A directora da Companhia Nacional de Bailado considera que sem Margarida de Abreu, "o bailado como existe hoje nunca teria existido e que todos os profissionais da dança lhe devem muito". Ana Pereira Caldas vê em Margarida Abreu "uma figura incontornável da dança em Portugal e que, no seu tempo, teve uma visão de futuro".A Companhia Nacional de Bailado prestará homenagem a Margarida Abreu na programação de Outubro.Vasco Wellenkamp, director da Companhia Portuguesa de Bailado Contemporâneo, disse que a professora "ensinou a amar a dança". "Nas aulas dela, mais do que a técnica, ensinava a sentir a dança, o movimento", referiu o coreógrafo, aluno de Margarida Abreu na década de 1960, ainda no Círculo de Iniciação Coreográfica.Uma mulher pioneira do ensino da dançaApaixonada pela dança, à qual dedicou mais de 60 anos da sua vida, Margarida Hoffmann de Barros Abreu Salomão de Oliveira nasceu a 26 de Novembro de 1915, em Lisboa, e recebeu uma profunda educação humanística e artística e uma sólida formação musical.Margarida de Abreu teve o seu primeiro contacto com a dança aos 12 anos através da ginástica rítmica dalcrozeana com as professoras Cécil Kitkat e Sosso Ducas-Schau.Aos 17 anos partiu para Genebra, Suíça, para integrar o Institut Jacques Dalcroze, onde se formou em 1937, e prosseguiu os estudos na Alemanha, no Deutsche Tanz Schule, em Berlim, seguindo depois para o Hellerau Laxemburg Schule, em Viena.Devido a uma ciática numa perna e nas costas, Margarida de Abreu deixou de dançar e foi para Inglaterra, onde fez estágios de ensino, em 1947 e 1948, na Sadler's Wells, em Londres (hoje Royal Ballet School).Margarida de Abreu regressou a Portugal com o início da II Guerra Mundial e percebeu que não havia nenhuma tradição no país e que a dança existente era a das revistas do Parque Mayer e das óperas do Coliseu.Em 1939, a convite do director do Conservatório Nacional, Ivo Cruz, tornou-se professora de dança do curso de teatro do Conservatório (de 1939 a 1986), onde teve como alunos João d'Ávila, Catarina Avelar, Alina Vaz, Mariana Rey-Monteiro, entre outros.Nas suas primeiras experiências coreográficas, Margarida de Abreu colocou como intérpretes um grupo de alunas do Conservatório, que pela primeira vez se apresentaram fora do contexto escolar. Desta experiência, em 1944, Margarida de Abreu criou o Círculo de Iniciação Coreográfica (CIC), que traçou um caminho paralelo ao grupo dos Bailados Verde Gaio, dirigido por António Ferro e orientado por Francis Graça, cujo estilo era mais o folclore.O CIC permitiu a Margarida de Abreu iniciar uma campanha para a divulgação do bailado clássico. Em 1946, Margarida de Abreu publicou o seu "manifesto" em defesa da dança como forma de arte e do seu ensino.O CIC acabaria por fechar em 1960. Nesse mesmo ano, Margarida de Abreu e o seu ex-aluno Fernando Lima são convidados para remodelar os Bailados Verde Gaio, iniciando uma luta contra o que considerava ser a estilização do folclore.Paralelamente integrou a recém-formada Escola de Bailado de São Carlos como coreógrafa, um projecto da Alta Cultura que durou de 1964 a 1972.Margarida de Abreu esteve 18 anos à frente dos Bailados Verde Gaio, onde introduziu a técnica classicista e expressionista, guiada pela dança interpretativa de Mary Wickman e de Isadora Duncan.No entanto, Margarida de Abreu não parou, continuou a leccionar no conservatório - onde esteve 50 anos - e no seu estúdio particular em Lisboa.Após ter deixado o ensino oficial, Margarida de Abreu criou o Grupo Studium, com o qual apresentou algumas novas peças ou recriações de obras do passado com antigos e actuais alunos.Do seu extenso trabalho coreográfico fazem parte, entre outros, "Bailado Setencista" (1943), "Pastoral" (1943), "O Pássaro de Fogo" (1946), "Serenata" (1946), "Dança do Vento" (1949), "Nocturnos" (1958) e A menina dos olhos verdes" (1971).No cinema, Margarida de Abreu foi a coreógrafa do filme "Amor de Perdição", "Francisca" e "Os Canibais", de Manoel de Oliveira.Foi agraciada com a Ordem de Instrução Pública (1979), recebeu o Troféu da Casa da Imprensa nesse mesmo ano e, em 1980, numa homenagem no Teatro Nacional de São Carlos, recebeu a Medalha Almeida Garrett.Em 1988 foi agraciada com o Troféu do Jornal "Sete" e em 1990 com a Medalha de Mérito Artístico do Conselho Brasileiro de Dança.

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