quarta-feira, 7 de março de 2007

Edith Piaf

Nascida Edith Giovanna Gassion, apelidada Môme Piaf, eternizada como Edith Piaf.Uma mulher de personalidade marcante, cujo talento incomparável atravessou décadas e será eternamente reverenciada pelos amantes da Arte, como uma das grandes vozes do século.
A história de Edith Piaf desafia a imaginação de um bom escritor. "De todas as cantoras autenticamente populares, Piaf é, talvez, aquela cuja existência e carreira foram copiosamente travestidas por uma infinidade de histórias mais ou menos confirmadas e de lendas mais ou menos verdadeiras."


Edith Giovanna Gassion nasceu em 19 de dezembro de 1915. Conta a lenda que Anetta Giovanna Maillard, sua mãe, deu à luz sob um poste, na Rue de Belleville 72, 20º distrito de Paris, num bairro de classe média trabalhadora.
Sua infância foi pobre e solitária. Louis Alphonse Gassion, seu pai, ganhava a vida como acrobata de rua e raramente estava em casa.


Biografia

Nascida Edith Giovanna Gassion, apelidada Môme Piaf, eternizada como Edith Piaf.Uma mulher de personalidade marcante, cujo talento incomparável atravessou décadas e será eternamente reverenciada pelos amantes da Arte, como uma das grandes vozes do século.
A história de Edith Piaf desafia a imaginação de um bom escritor. "De todas as cantoras autenticamente populares, Piaf é, talvez, aquela cuja existência e carreira foram copiosamente travestidas por uma infinidade de histórias mais ou menos confirmadas e de lendas mais ou menos verdadeiras."

1. A infância

Edith Giovanna Gassion nasceu em 19 de dezembro de 1915. Conta a lenda que Anetta Giovanna Maillard, sua mãe, deu à luz sob um poste, na Rue de Belleville 72, 20º distrito de Paris, num bairro de classe média trabalhadora.





Dois anos depois, o pai retornou da guerra e decidiu enviar Edith para a Normandia, nas proximidades de Bernay, onde a avó paterna, Mme. Louise, dirigia um bordel.
Ali, ela viveu dias melhores, mas, uma inflamação da córnea, chamada ceratite, tirou-lhe a visão. Feito o diagnóstico, os médicos recomendaram alimentação sadia, higiene, descanso para os olhos e muita paciência, já que a cura esperada seria sobretudo obra do tempo.
Isto aconteceu anos depois, de forma espontânea, mas, as pensionistas de Mme. Louise acreditavam que fora um milagre, operado por Santa Teresa de Lisieux.
Na casa da avó paterna, Edith alimentava-se bem, ia à escola, mas, também começava a compreender o que via e ouvia. Aconselhada pelo cura local, Mme. convenceu Alphonse a retomar a guarda da filha.
Em 1922, Edith e o pai deixaram a Normandia. De volta a Paris, ela acompanhava o pai em seus espetáculos de rua, recolhendo as moedas que lhes ofereciam ao final de cada apresentação. Juntos, percorreram o país, durante anos. Foi um período triste e miserável, onde a menina se viu privada das atividades mais comuns da sua idade.
As agruras de uma vida incerta, a pobreza e a solidão marcaram sua vida para sempre.

Aos 15 anos, consciente de sua bela voz, ela abandonou as apresentações com o pai e passou a cantar em dupla com sua amiga Simone Berteaut, apelidada Momone.
Esperta e sagaz, Momone iniciou Edith nos usos e costumes da vida noturna da Paris marginal. A aparência de Edith era péssima, mas, a voz poderosa despertava a atenção. Cantava pelas ruas, em troca de algumas moedas que lhe atiravam das janelas e assim ia levando a vida...
Corria o ano de 1932.
Edith tinha 17 anos e se apaixonou por Louis Dupont, conhecido em Belleville como P’tit Louis (Luizinho). Ele instalou Edith e Momone em um quartinho de hotel, mas, não era fácil sobreviver. O dinheiro, sempre curto, mal dava para pagar o aquecimento.
Em fevereiro de 1933, Edith deu à luz a Marcelle, apelidada de Cécelle.
"Tudo indica que ela, mesmo reservadamente, jamais disse como vivenciou esta gravidez. Contudo, não imaginemos exagerados dramas íntimos. O mundo de onde veio e aquele em que buscou encontrar-se não podem se dar ao luxo de grandes estados de espírito" . Edith e Louis se separam – ele levou a filha e ela ficou com Momone.
Em 1935, "numa noite em que nos dava vontade de acabar com a vida" (segundo Momone) P’tit Louis reapareceu; trazia uma triste notícia: a menina estava gravemente enferma - meningite.
Edith correu ao hospital, mas, a criança morreu. Tinha 2 anos e cinco meses de idade e sua mãe, apenas 19 anos e meio.
Dizem que Edith se prostituiu para conseguir dinheiro para o funeral da filha e que o cliente, sensibilizado com o fato, pagou e nada exigiu em troca. Mas, a menina foi enterrada no cemitério dos pobres, em Thias, subúrbio a leste de Paris. Os recursos do pai e da mãe permitiram apenas um funeral de indigente. Após a morte de Cécelle, Edith voltou a cantar nas ruas, nas praças e cafés próximos a Belleville, e aos poucos, nas áreas de cabarés em torno de Pigalle.


Numa tarde de outono, do mesmo ano, ela cantava na esquina da rue Troyon com av. Mac Mahon, próximo à Place de l’Étoile. Fazia frio e ventava. Por acaso, passou por ali Louis Leplée, diretor do elegante Cabaré Le Gerny’s, situado na rue Pierre Charron, 54, em Champs Elysées.
Leplée era sobrinho de Polin, um cantor de sucesso, e tinha prestígio na noite parisiense. Impressionado com a voz de Edith, ele lhe ofereceu um teste como cantora.
No dia do teste, nervosa e hesitante, ela se atrasou por uma hora, mas, acabou por conquistar inteiramente Luis Leplée, que a contratou por 40 francos por noite.
Envergando um vestidinho preto, simples e despretensioso, que se tornaria uma de suas marcas registradas, a moleca de rua transformou-se na cantora oficial do Le Gerny's.
Coube também a Leplée a escolha do nome que a tornaria famosa, "La Môme Piaf", que significa, na gíria, "pardalzinho" - uma designação perfeita para a jovem de aparência frágil e voz poderosa.
Mas, no palco, uma força extraordinária e um poder de sedução emanavam daquela figurinha de apenas 1,47 de altura. A voz pura e emotiva mantinha o público cativo.
Por intermédio dela, a música de rua entrou no cabaré e a desconhecida Edith tornou-se um sucesso, aplaudido pela elite de Paris: Maurice Chevalier, Mistinguett, Fernandel, Jean Mermoz, Joseph Kessel . A convite de Jacques Canetti, que lhe ofereceu um contrato de 3 meses, fez apresentações na Radio Cité, onde cantava e "conversava" em pessoa. Era o início de uma nova vida!
Na casa de Leplée conheceu pessoas importantes, entre outros, o poeta Jacques Bourgeat, que se tornaria seu amigo e confidente. Motivado pelo sucesso imediato da Môme, Leplée decidiu apresentá-la às gravadoras.
Em 1936, Piaf gravou o seu primeiro 78 rpm, "Les Mômes de la cloche". Seguem-se "Les hiboux", "La fille et le chien", "Reste" , "Je suis mordue", " Mon amant de la coloniale", de Raymond Asso e Marguerite Monnot e "La jolie Julie", entre outros. Mas, a tragédia já espreitava Piaf. Num momento em que apostava numa carreira de sucesso, Leplée foi assassinado e ela intimada a dar explicações. A homossexualidade de Leplée sugeria um crime passional. Durante semanas ela foi o centro de atenção da imprensa: "Em torno desse drama construía-se um romance de folhetim do qual eu era a heroína, sem dúvida pitoresca, mas, absolutamente antipática." Haviam se passado apenas 6 meses desde que, transformada em Môme Piaf, deixara para trás a vida de moleca de rua.
Ela tinha então 20 anos e o destino a empurrava de volta ao universo de sua adolescência.
Piaf conseguiu driblar o escândalo e, em poucos meses, retomou sua carreira, desta vez com a ajuda de Raymond Asso, um ex-legionário que decidira se lançar nos meios musicais parisienses.
Raymond Asso ficou encantado com Edith e dedicou-se a ajudá-la a melhorar sua maneira de apresentar-se em público.
Trabalhando com a compositora Margueritte Monnot, Asso escreveria um dos primeiros sucessos de Edith Piaf, "Mon légionnaire" canção que, antes de se tornar parte do repertório de Piaf, fora cantada por Marie Dubas.
Foi também o início de uma relação conturbada - Asso estava apaixonado pela Môme, mas, como mentor, era extremamente exigente, e impunha-lhe um esforço de trabalho considerável. Ensinou-a a movimentar-se, a falar, a escrever e a ler.


"La Môme Piaf", o nome artístico, foi abandonado em 1937 quando ela passou a se apresentar como Edith Piaf. Mais gravações, mais sucessos ! No Le Bobino, famosa casa parisiense, ela se apresentou como estrela do espetáculo, ao lado de Jean Granier. Piaf conquistara a Rive Gauche e iria conquistar muito mais!
Sua meta agora era o ABC, o music hall parisiense de maior prestígio e ela conseguiu atingir esse objetivo, graças a Raymond Asso. O sucesso aumentou a venda de seus discos e diversificou sua agenda: gravações, apresentações nos palcos parisienses, participações em programas de rádio, turnês pelo interior e pela Bélgica, além do cinema, onde apareceu em "La garçonne".
Mas, era preciso manter o andamento. Naquela época, discos e apresentações em rádio não eram o suficiente. Era no palco, cantando sem microfone, que se ganhava e conservava a aprovação do público.
Em setembro de 1939, estourou a guerra. Asso foi mobilizado. Michel Emer, um jovem que ela conhecera nos corredores da Radio Cité, entregou-lhe a canção "L'accordéoniste", que ela transformou num enorme sucesso. Em 1940, Edith conheceu o ator francês Paul Meurisse, um homem elegante e reservado, com quem teve um romance que durou 2 anos. Com ele aprendeu como portar-se em sociedade e aprimorou sua educação.
Asso continuava na guerra e Edith se instalou, com Meurisse, no número 10 da Rua Anatole de la Forge, seu primeiro apartamento, pois, até agora, morara em hotéis.
"La Môme Piaf", o nome artístico, foi abandonado em 1937 quando ela passou a se apresentar como Edith Piaf.
Mais gravações, mais sucessos ! No Le Bobino, famosa casa parisiense, ela se apresentou como estrela do espetáculo, ao lado de Jean Granier. Piaf conquistara a Rive Gauche e iria conquistar muito mais!
Sua meta agora era o ABC, o music hall parisiense de maior prestígio e ela conseguiu atingir esse objetivo, graças a Raymond Asso. O sucesso aumentou a venda de seus discos e diversificou sua agenda: gravações, apresentações nos palcos parisienses, participações em programas de rádio, turnês pelo interior e pela Bélgica, além do cinema, onde apareceu em "La garçonne".
Mas, era preciso manter o andamento.
Naquela época, discos e apresentações em rádio não eram o suficiente. Era no palco, cantando sem microfone, que se ganhava e conservava a aprovação do público.
Em setembro de 1939, estourou a guerra. Asso foi mobilizado.
Michel Emer, um jovem que ela conhecera nos corredores da Radio Cité, entregou-lhe a canção "L'accordéoniste", que ela transformou num enorme sucesso.
Em 1940, Edith conheceu o ator francês Paul Meurisse, um homem elegante e reservado, com quem teve um romance que durou 2 anos. Com ele aprendeu como portar-se em sociedade e aprimorou sua educação. Asso continuava na guerra e Edith se instalou, com Meurisse, no número 10 da Rua Anatole de la Forge, seu primeiro apartamento, pois, até agora, morara em hotéis.

Piaf residia no Hotel Alsina, quando conheceu Paul Meurisse.

De miúda de rua, ela transformou-se na "queridinha da elite intelectual francesa" e tornou-se amiga íntima do famoso dramaturgo e diretor de cinema, Jean Cocteau.
Edith e Meurisse apresentaram-se no Bobino, antes de montar, no teatro, "Le bel indifférent", que Cocteau escreveu especialmente para eles, um espetáculo no qual Piaf revelou um enorme talento para o palco...
Após este notável êxito no teatro, o casal protagonizou "Montmartre sur scène."
No set de filmagens de "Montmartre...", o romance acabou e Edith iniciou um novo relacionamento, com Henri Contet, um talento promissor, que escreveu muitas letras dos sucessos seguintes da cantora, entre elas, "C'est merveilleux"
Eles se conheceram durante as filmagens de "Montmartre..."onde ele, jornalista do "Paris-Soir" e do "Ciné Mondiale", trabalhava como assessor de imprensa.
Em 1942, durante a Ocupação, Edith mudou-se, com Momone, para a Rua de Villejust 5.
No mesmo prédio, Madame Billy instalara "L'Etoile de Kléber", uma famosa e discreta casa de "rendez-vouz", criada por ela em 1941.
Ali Edith permaneceu até 1944, tendo como amante o pianista judeu Norbert Glanzberg. Teria sido amor ou pura provocação?
Neste 1942 ela gravou "Le Vagabond", título refeito 4 vezes, um record.
As gravações continuavam: "Simple comme bonjour", "Tu es partout", "Un coin tout bleu", "C'était une histoire d'amour" entre outras.
Piaf prosseguiu em sua carreira durante a Segunda Guerra, contratando, nessa época, músicos judeus para acompanhá-la em turnê. Em 1944, aos 29 anos, no auge da fama em seu país, ela começou a usar seu prestígio e impulsionar o lançamento de novos talentos. No verão de 1944, Edith conheceu um jovem cantor de Marselha - Yves Montand.
Refém do charme tranqüilo e do jeito de astro de cinema de Montand, ela se apaixonou, roubando tempo de sua própria carreira para dedicar-se à carreira dele. Desta vez, ela era "pigmalião": ajudou-o a ensaiar seus números, aconselhou-o quanto ao corte de cabelo, figurinos de cena e também a deixar de lado o seu personagem cowboy. Também convenceu Henri Contet a escrever novo material para as apresentações de Montand.
Em 1945, ela e Montand formaram a famosa dupla no filme de Marcel Bilstène, "Etoîle sans lumière".
O tempo passou.... As canções nem sempre eram sucesso. Ela trocou a gravadora Polydor pela Pathé .
O romance com Montand, que perdera a docilidade que tanto a encantara, acabou. Em 1946, na Comédie Française, Piaf conheceu os "Les Compagnons de la Chanson", e vislumbrou neles um enorme talento.

O grupo era contratado da Pathé, que resolveu investir nele e ao mesmo tempo relançar a carreira de Edith, naquele momento em declínio. Juntos gravaram "Dans les prisons de Nantes", "Le roi a fait battre tambour" e "Le trois cloches", que fez sucesso em toda a França, vendendo milhares de discos. Ela então convidou os "Compagnons" para acompanhá-la em sua primeira turnê americana, no ano seguinte. Em outubro de 1946 Edith gravou, pela Pathé, "Je m'en fous pas mal", "Mariage", "Un refrain courait dans la rue" e um dos seus maiores sucessos mundiais, a inesquecível "La vie en rose", assinada por ela e Louiguy.
Marianne Michel fora a primeira a interpretar a canção, que se tornou um sucesso retumbante, na voz de Piaf.
A turnê pelos EUA não foi bem-sucedida. Sucesso na França, o estilo melodramático de Piaf não agradou aos americanos que não prestigiaram suas primeiras apresentações, no cabaré PlayHouse, em NY. Desanimada, ela chegou a pensar em retornar à Europa, mas, mudou de idéia, quando um importante jornal novaiorquino fez referências altamente elogiosas ao seu desempenho. Além do mais, sua derrota, nos EUA, seria considerada uma derrota também da França. Edith decidiu ficar, disposta a conquistar a simpatia da platéia americana. Contratada por uma semana pelo Versailles, um cabaré elegante de Manhattan, ela finalmente conseguiu a rendição do público ao interpretar "Milord", "à l'américaine", como dizia. Celebridades foram assisti-la: Jean Sablon, Marlene Dietrich, Charles Boyer, Henry Fonda, Orson Welles, Judy Garland, Bette Davis, Barbara Stanwick... uma lista infindável. Sua temporada no Versailles foi prolongada: de uma semana, para quatro meses.
Edith Piaf acabara de realizar um sonho: tornar-se uma estrela reconhecida e aplaudida dos dois lados do Atlântico!
Ela voltou muitas vezes aos EUA para outros concertos de sucesso. Foi em New York que Piaf conheceu Marlene Dietrich, uma amizade que durou toda a sua vida, e Marcel Cerdan, o pugilista, por quem se apaixonou. Perante o público, ela procurava manter o romance apenas na esfera da "grande amizade". Marcel era casado, tinha filhos, e isto constrangia Piaf. Mas, manchetes internacionais logo revelaram o romance da "Rainha da Música Francesa" e do "Rei do Ring".
Para os jornais, um romance perfeito, um "caso empolgante"! Lucien Roupp, treinador de Marcel, e Antoine Cerdan, irmão do lutador, pensavam diferente.
O primeiro achava que Edith monopolizava demais o pugilista, tomando-lhe mais tempo do que seria desejável : "As noitadas acabavam tarde e Marcel dormia pouco." declarou ele.

Para Antoine, Edith roubava Marcel do convívio da família, residente em Casablanca, África.
As desavenças logo seriam exploradas pelo sensacionalista "France-Dimanche": "Piaf dá azar a Cerdan", numa referência a uma derrota sofrida por Cerdan e à constante presença da cantora na vida do lutador.
Mas, "a profissão e a paixão pela canção faziam valer seus direitos e o escândalo não alterou o crescente brilho daquela que Jean Cocteau chamava de Madame Piaf. Pelo contrário. Todo o público tinha para Edith os olhos de Marcel. Ele a achava formidável. O público achava ambos formidáveis: o gentil e soberbo campeão, arrancado pela glória do seu Marrocos natal e a alegre e comovente cantora, tirada da rua pelo milagre de sua voz incomparável. O que sua relação tinha de ilegal, o fervor popular legitimou."Marcel era um homem de maneiras simples, mas, emocionalmente estável e proporcionava a Edith uma segurança que ela jamais encontrara.
Em 14 de outubro de 1948, pela primeira vez, uma canção de Piaf estava nas paradas de sucesso da Inglaterra: era "Take to your heart again", adaptação de Frank Eyton para "La vie en rose".
Ela parecia afinal ter encontrado a felicidade!
A Marcel Cerdan dedicou um de seus mais belos clássicos: "L'hynne à l'amour", canção escrita em parceria com a compositora francesa Marguerite Monnot. Apresentada pela primeira vez no Versailles, "Hino ao amor" possui algo de premonitório:

" Si un jour, la vie t'arrache à moi,
Si tu meurs, que tu sois loin de moi
Peu m'importe, si tu m'aimes,
Car moi, je mourrai aussi...."

"Se um dia, a vida te arrancar de mim,
Se morreres, se ficares longe de mim
Que me importa, se me amas,
Porque eu morrerei também."...

O infortúnio acompanhava Piaf... e na vida, aconteceu diferente do final da canção: "Deus reúne aqueles que se amam"...
Em outubro de 1949, ela estava em New York. Marcel iria encontrá-la, após um série de lutas em benefício de pugilistas inválidos.
Sozinha e saudosa, ela pediu que ele tomasse um avião, em vez de um navio que demoraria uma semana. Marcel argumentou...ela insistiu...
Esta foi a última vez que se falaram. O avião, um Constellation, caiu nos Açores. Edith recebeu a notícia poucas horas antes de uma apresentação, no Versailles.
Subindo ao palco, ela calou os aplausos com um gesto e repetiu para a platéia o que já dissera aos amigos: "Hoje à noite, canto para Marcel Cerdan, em sua memória, unicamente para ele".
Ao final da quinta música, Piaf desmaiou. Os jornais do dia seguinte trouxeram de volta a dor da realidade: "Eu o matei", repetia ela... Edith Piaf não pôde comparecer nem no dia seguinte, nem nos três dias posteriores ao palco do Versailles. À insuportável dor da perda, juntou-se uma intensa dor física, provocada pelo reumatismo, que se manifestava pela primeira vez, e exacerbada por uma reação orgânica à brutalidade do choque que sofrera.
Incapacitados de remover a causa, aos médicos restou a alternativa de combater os efeitos. Prescreveram morfina, o mais poderoso calmante disponível na época. "É mister sobretudo lembramos que, se a lenda de uma Piaf drogada e parecida com um camafeu encontra aqui a sua origem, isso se deu a princípio por confusão entre toxicomania e prescrição médica. Depois, por ignorância: com a repetição dos sintomas, o uso medicamentoso transformar-se-ia em abuso." Piaf nunca se recuperou dessa perda. Cerdan foi seu grande amor... Durante algum tempo refugiou-se na esperança de conseguir fazer contato com Marcel - participava de sessões espíritas, ficando à mercê de pessoas inescrupulosas que queriam explorá-la financeiramente.
Atitudes intempestivas, por vezes radicais, revelavam o turbilhão que lhe ia na alma.
Certa vez, indiferente à preocupação que despertara nas pessoas que a rodeavam, trancou-se durante muito tempo no banheiro:
"Assim, nunca mais serei como antes", disse ao sair, exibindo um novo e horrendo visual - apenas um topete de caracóis curtos, no alto da cabeça.
Quase um ano após a morte de Cerdan, ela voltou aos palcos, em Paris, cantando na famosa Salle Pleyel. Foi quando conheceu Charles Aznavour, nessa época um jovem cantor em ascensão. Por intermédio de Piaf ele conseguiu seus primeiros contratos.
Aznavour escreveu uma série de sucessos para ela, entre eles: "Jezebel" e o lendário "Plus bleu que tes yeux". Após Aznavour, houve uma série de casos de curta duração: mudava bastante o primeiro nome do "Monsieur Piaf", como os jornais chamavam, zombeteiros, quem ocupava, em dado momento, o posto de "amado" da cantora.
Esse "cargo" coube ao jovem Eddie Constantine, um cantor iniciante, a um atleta do ciclismo... sem falar nos impulsos de momento e nas aventuras "não oficiais".
A tragédia continuava presente na vida de Piaf.
Neste mesmo ano, 1951, ela sofreu dois sérios acidentes de automóvel, aos quais, surpreendentemente, conseguiu sobreviver.
Submetida à cirurgia para redução de fratura, recebeu novas injeções de morfina. Combinada com o crescente consumo de álcool, a droga começou a destruí-la, física e mentalmente.
Em julho de 1952 ela se casou com o cantor francês Jacques Pills, em cerimônia particular na Prefeitura de Paris. Não houve tempo para festejos. Voaram para os EUA, onde Edith fazia a quinta turnê americana. Mais tarde, em New York, ela finalmente teve o glorioso casamento na igreja com o qual tanto sonhara.
Enquanto Edith retornava ao famoso Versailles, Pills se apresentava em lugar de menor destaque, acompanhado por um jovem e promissor artista francês, Gilbert Bécaud.
Juntos, mais tarde, escreveriam outro grande sucesso de Piaf, "Je t'ai dans la peau". É também de Bécaud a magnífica canção "Bravo pour le clown", um desafio à sua perícia vocal e cênica.
A carreira continuava em ascensão internacional, mas, o álcool e as drogas vinham provocando grandes danos e a saúde de Piaf estava a cada dia mais frágil.
Numa clínica particular, ela se submeteu a um longo tratamento de desintoxicação, tentando libertar-se do álcool e da morfina. A voz, no entanto, continuava magnífica!
São extraordinárias as gravações feitas em 1952 e 1953, assim como os concertos realizados nessa mesma época. Os amigos mais íntimos não poupavam esforços para esconder da imprensa a miséria da vida pessoal de Piaf, tentando, ao mesmo tempo, fazer com que ela se afastasse dos palcos. Em 1955, ela apareceu triunfante, num show magnífico no L'Olympia de Paris.
A voz, ainda pura e poderosa, arrebatava o público, que a aplaudia de pé, dominado pela mais profunda emoção, ao final de cada espetáculo.
No mesmo ano, iniciou uma extenuante turnê pelos EUA, cujo ápice foi uma memorável apresentação de gala, no Carnegie Hall, em New York (1956).
Foi a primeira vez que uma cantora "variété" ocupou o palco do famoso "templo da música clássica".
Em janeiro de 1956, apresentou-se por toda a América Latina, durante quatro meses e meio.
Em maio retornou a Paris e em 10 dias estava de volta ao Olympia, com dois novos sucessos: "L'Homme à la moto" e "Les amants d'un jour". Em fins de 56, após outra turnê pelos EUA, nova internação para desintoxicação. A terapia funcionou e ela nunca mais tocou em álcool, durante o resto de sua vida, mas os danos já eram irreversíveis. Em 1958 , vamos encontrá-la no Olympia, pela terceira vez em sua carreira, para uma memorável série de concertos. Foi quando cantou, pela primeira vez, "La Foule", canção que trouxera da América do Sul, adaptada por Michel Rivgauche e que transformou em êxito internacional. A temporada também produziu outro grande sucesso, "Mon manège à moi".
Mas, ainda havia tempo para o amor... Desta vez, uma curta ligação com Douglas Davies, um pintor americano de 23 anos. Após outro acidente de carro, ao descobri-la um ser humano mortal e dependente da morfina, ele fugiu.
Neste mesmo ano, Piaf começou outra relação amorosa, desta vez com o compositor francês Georges Moustaki . Ele compôs muitos sucessos de Piaf, entre eles "Milord", canção escrita em colaboração com Marguerite Monnot, leal amiga de Piaf, e que seria seu primeiro sucesso no New Musical Express, a lista inglesa dos discos mais vendidos. "Milord" também conquistou expressivo sucesso na Itália, Alemanha e Holanda.

Estamos em setembro de 1958.
Piaf e Monnot sofreram um grave acidente de carro, o que debilitou, ainda mais, a saúde da cantora.. Poucos meses após, de volta ao palco, Piaf desmaiou no meio de um espetáculo em NY. Foi hospitalizada e submetida a uma cirurgia de emergência.
Indiferente aos conselhos dos médicos e amigos, Piaf se recusava a abandonar os palcos, embora voltasse a desmaiar em meio aos espetáculos, por repetidas vezes.
Em 1960, vamos encontrá-la ao lado do jovem compositor Charles Dumont, autor da canção de maior sucesso da carreira de Piaf : "Non, je ne regrette rien".
Na letra, onde faz uma reflexão sobre sua própria vida, ela estampou toda a sua emoção. Ao cantá-la pela primeira vez, em um grande concerto no Olympia, seu desempenho foi considerado um dos maiores de todos os tempos.
Theophanis Lamboukas, um jovem grego, cabeleireiro de senhoras num salão familiar, ela conheceu no verão de 1961. Edith sempre apreciou rapazes com sensibilidade feminina.
No final do inverno, internada no Hospital Ambroise Paré com broncopneumonia, Edith recebeu a visita de Théo. Ele presenteou-a com uma boneca grega e o gesto emocionou Edith.
Ao deixar o hospital, ela passou a ensinar o jovem a cantar e lhe deu um nome artístico, Sarapo, que em grego significa "eu te amo".
A juventude e vitalidade de Théo despertaram em Piaf um novo ânimo e ela voltou ao trabalho e às gravações.
Sarapo foi seu último marido e também seu último pupilo.
Juntos gravaram "A quoi ça sert l'amour", que vendeu inúmeros discos, em meio à onda do ie-ie-ie.
Estamos em julho de 1961.

A crítica francesa concedeu à Piaf o "Prix du disque de l'Académie Charles-Cros", por sua importante contribuição à música francesa.
Setembro de 1962: Piaf retornou ao tradicional Olympia de Paris, para sua última série de concertos naquela casa.
Em 25 de setembro, compareceu, como convidada de honra, à estréia internacional do filme "O mais longo dos dias" (The longest day ).
Nessa ocasião, cantou seus maiores sucessos, aplaudida por um público numeroso que incluía personalidades de todas as esferas sociais.
Dias após, 9 de outubro, casou-se com Théo Sarapo, numa cerimônia ortodoxa particular.
Piaf estava com 46 anos e Théo com 23.

Comentários acerca da diferença de idade não faltavam, ao que Piaf respondeu, certa vez, com bom humor:
"Aí está: com freqüência, fui censurada por estar mal penteada. Uma vez que me apaixonei por um rapaz cabeleireiro, eu não ia perder tal oportunidade".....e concluiu: "Não se pode exigir que Piaf siga determinada lógica. Amo Théo, Théo me ama, nós nos amamos, esta é a única lógica que eu conheço, é o único verbo que eu sei conjugar de cor e em todos os tempos e é por isso que vamos casar".
Mas, a realidade era diferente: segundo Louis Barrier , testemunha do casamento, ela queria recuar, mas, rendeu-se ao argumento de que o público interpretaria sua desistência como uma manifestação de seu temperamento instável.
"Tanto tempo depois, não acredito estar magoando ninguém ao divulgar que, entre ela e Théo, já não havia mais nada. ‘ No que me diz respeito, está acabado há um bom tempo’ confessara para mim. Ela se casou porque diante da imprensa, diante do público e talvez também diante de Théo, que ela arrastara para esse negócio, era demasiadamente tarde para recuar".(7)
Fevereiro de 1963 - o cenário musical era muito diferente daquele que Piaf conhecera .
Não era fácil, para os artistas que se consagraram antes dos anos 60, vender seus discos e encontrar sucessos, já que os autores e compositores davam preferência aos cantores mais novos.
Com Piaf não foi diferente.
Numa espécie de jogo mórbido, ela alimentava os jornais com entrevistas sensacionalistas pelas quais cobrava muito caro e onde expunha, como em desafio, sua própria decadência, sua "morte ao vivo".
Talvez precisasse de dinheiro. Talvez estivesse apenas satisfazendo uma desconcertante inclinação para a provocação...
Março de 1963 : nos últimos dois dias do mês, Edith e Théo se apresentaram no famoso palco da Ópera de Lille.
Triste surpresa: a grande Piaf, resfriada, cantou diante de um público reduzido, "decepção e afronta que não pode ser explicada, por si só, pela greve de transportes coletivos que paralisava a capital do norte do país. E que tristeza suplementar, se ela tivesse sabido que era ali e dessa maneira que se apresentava o ato final de sua carreira"....(8)
De volta a Paris, o médico prescreveu descanso.
Piaf estava sem forças, mas, mesmo assim, não cancelou a turnée pela Alemanha, apesar dos conselhos profissionais.
Em 7 de abril ela apresentou uma ligeira melhora e ensaiou "L'Homme de Berlin", uma canção feita para a Alemanha.
Mas, a 10 de abril, chegou, semi-inconsciente, à Clínica Ambroise-Paré de Neuilly-sur-Seine.
Quarenta e oito horas após a internação, Piaf mergulhou em coma hepático. Durante as semanas seguintes, o marido e a enfermeira testemunharam longos delírios.
"Entre a vida e a morte, Edith Gassion canta ainda as melodias do tempo recente em que era Piaf".
Frágil, convalescente, mas impulsionada por um instinto de conservação fora do comum, ela saiu do hospital e passou uma temporada no litoral, em Cap Ferrat, instalada em La Serena, uma mansão com vinte e cinco cômodos, piscina e praia, alugada por 50 mil francos, por um período de 2 meses.
No final de junho, entrou novamente em coma hepático.
Vencida a crise, ela se sentia muito fraca, mas, manifestou intenso desejo de rever aqueles com quem convivera ao longo de sua carreira.
Jacques Bourgeat, Henri Contet, Michel Émer, Raymond Asso, Charles Aznavour, todos atenderam ao seu chamado.
Em 1° de agosto, Edith e seu séquito partiram para a Gatounière, menos ampla, menos dispendiosa e - recomendação médica por causa do reumatismo - mais afastada do mar.
Seguiu-se nova internação e mais tratamentos.
Como medida de economia, Edith transferiu-se para Enclos de la Rorrée, uma herdade de Plascassier, no planalto de Grasse. Com ela ficaram somente o casal Bonel (Marc Bonel que foi seu acordeonista e sua esposa, Danièle Bonel, ex-secretária e governanta da casa de Piaf), a enfermeira e o marido.
Uma cura estava fora de cogitação. O fígado estava por demais enfraquecido e ela pesava apenas 34 quilos.
Aos quarenta e oito anos, Piaf aparentava ter mais de sessenta - a vida desregrada, as doenças e muito sofrimento haviam lhe cobrado um alto preço. Na quarta-feira, 9 de outubro, dia do aniversário de casamento com Sarapo, vertigens e calafrios obrigaram-na a ficar na cama até a hora do almoço. Voltou a deitar-se pouco depois, e não voltaria a descer mais...

Dia 10 de outubro de 1963:
"Eram duas e meia da manhã, quando a enfermeira se aproximou da cabeceira de sua doente. Ela parecia estar dormindo. A respiração estava normal, mas o rosto reassumira a cor marfim, característica dos comas hepáticos. O lençol afastado e a camisola erguida descobriam uma mancha escura na altura do baço. Hemorragia interna. A artéria esplênica rompera-se. O médico foi chamado mas não pôde fazer nada mais.
Edith Piaf estava morrendo. Um magnetizador que a ajudava a adormecer jazia em suas mãos. Por volta do meio-dia, o médico retornou e foi embora, resignado. A não ser por um milagre...
Às 13:30horas ela abriu os olhos, procurou erguer-se e recaiu, morta"... (9)

"Edith Piaf morreu duas vezes.
Já estava sem vida, há várias horas, quando uma ambulância chegou e o corpo foi removido às pressas. Os jornalistas, postados nas imediações, pensaram tratar-se de mais uma internação. Este era justamente o efeito que se buscava.

A ambulância rodou durante toda a noite, chegando ao apartamento do Boulevard Lannes, ponto final da viagem clandestina.
Piaf morrera na quinta-feira, em Plascassier, mas, fazendo fé no comunicado transmitido à AFP, todos acreditaram na data de falecimento constante no registro civil: sexta-feira, 11 de outubro de 1963, às 7 horas da manhã.
Desse modo, a data de sua morte coincidiu com a morte de Jean Cocteau, morto ao meio-dia, enquanto preparava uma homenagem à cantora que o fascinara.
Quando a fraude foi revelada, os responsáveis, notadamente a enfermeira Margantin, invocaram como nobre motivo o último desejo de Piaf: ‘Quero morrer e ser enterrada em Paris, em meu túmulo do Père-Lachaise, junto com a minha filhinha e meu pai’.

O mais provável é que ela tenha nascido em um hospital local, o Hospital Tenon, endereço que consta em sua certidão de nascimento oficial.
Sua infância foi pobre e solitária. Louis Alphonse Gassion, seu pai, ganhava a vida como acrobata de rua e raramente estava em casa.


A mãe, inteiramente absorvida pelo desejo de conquistar uma carreira como cantora, apresentava-se nos cabarés locais sob o pseudônimo de Line Marsa, deixando Edith aos cuidados da avó argelina, Aicha Kabyle. Consta que esta, além de alimentar muito mal a menina, misturava vinho tinto a sua mamadeira. Veio a Primeira Guerra Mundial e Alphonse foi convocado. A mãe passou a ganhar a vida cantando nas esquinas e antes que a guerra acabasse, abandonou o lar para sempre. Entregue a sua própria sorte, Edith vivia à solta, pelas ruas, com outras crianças da vizinhança.

2 comentários:

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Anónimo disse...

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