quarta-feira, 7 de março de 2007

Vieira da Silva- pintora

Maria Helena Vieira da Silva (Lisboa, 13 de Junho de 1908Paris, 6 de março de 1992) foi uma pintora portuguesa. Naturaliza-se francesa em 1956.
Filha do embaixador Marcos Vieira da Silva, Maria Helena demostra interesse pelas artes desde pequena. Em 1928 estabelece-se em Paris, onde conhece seu futuro marido, o também pintor húngaro Árpád Szenes, com quem realizou inúmeras viagens à América Latina para participar de exposições, como em 1946 no Instituto de Arquitetos do Brasil.

Devido ao facto de seu marido ser judeu e de ela ter perdido a nacionalidade portuguesa, eram oficialmente apátridas. Então, o casal decide residir por um longo tempo no Brasil durante a Segunda Guerra Mundial e no período pós-guerra. No Brasil, entram em contato com importantes artistas locais, como Carlos Scliar e Djanira.
Vieira da Silva foi autora de uma série de ilustrações para crianças que constituem uma surpresa no conjunto da sua obra. Kô et Kô, les deux esquimaux, é o título de uma história para crianças inventada por ela em 1933. Não se sentindo capaz de a escrever, a pintora entrega essa tarefa ao seu amigo Pierre Guéguen e assume o papel de ilustradora, executando uma série de guaches. Participa na Europália, em 1992, e vem a morrer nesse ano.
Para honrar a memória do casal de pintores, foi fundada em Portugal a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, sediada em Lisboa.

Algumas obras

As Bandeiras Vermelhas (1939, 80 × 140 cm);
História Trágico-Marítima (1944, 81,5 × 100 cm);
O Passeante Invisível (1949-1951, 132 × 168 cm);
O Quarto Cinzento (1950, Tate Gallery, Londres, 65 × 92 cm);
L'Allée Urichante (1955, 81 × 100 cm);
Les Grandes Constructions (1956, 136 × 156,5 cm);
Londres (1959, 162 × 146 cm);
Landgrave (1966, 113,6 × 161 cm);
Bibliothéque en Feu (1974, 158 × 178 cm)
Painéis de azulejo para as estações do Metro de Lisboa (Rato e Cidade Universitária

Auto-retrato



OBRAS



Harpa sofá





Estação do metro
Jogo de cartas


Abstracção
Uma das mais importantes pintoras europeias da segunda metade do século XX
Nasceu em Lisboa em 13 de Junho de 1908; morreu em Paris em 6 de Março de 1992.

Filha do embaixador Marcos Vieira da Silva, ficou órfã de pai aos três anos, tendo sido educada pela mãe em casa do avô materno, director do jornal O Século.
Tendo mostrado interesse, desde muito pequena, pela pintura e pela música começou a estudar pintura, a partir de 1919, com Emília Santos Braga e Armando Lucena. Em 1924, frequenta as aulas de Anatomia Artística da Escola de Belas Artes de Lisboa.
Em 1928 vai viver para Paris, acompanhada pela Mãe, indo visitar a Itália. No regresso começa a frequentar as aulas de escultura de Bourdelle, na Academia La Grande Chaumière. Mas abandona definitivamente a escultura, depois de frequentar as aulas de Despiau.
Começa então a estudar pintura com Dufresne, Waroquier e Friez, participando numa exposição no Salon de Paris. Conhece o pintor húngaro Arpad Szenes, com quem casa em 1930, e com quem visitará a Hungria e a Transilvânia.
Em 1935 António Pedro organiza a primeira exposição da pintora em Portugal, e que a faz estar em Portugal por um breve período, até Outubro de 1936, após o qual voltará para Paris, onde participará activamente na associação «Amis du Monde», criada por vários artistas parisienses devido ao desenvolvimento da extrema direita na Europa.
Regressará em 1939, devido à guerra, já que para o seu marido, judeu húngaro, a proximidade dos nazis o incomoda, naturalmente. Ficará em Portugal por pouco tempo, pois o governo de Salazar não lhe restitui a cidadania portuguesa, mesmo tendo casado pela igreja. Não deixa de participar num concurso de montras, realizado no âmbito da Exposição do Mundo Português, que também lhe encomendou um quadro, mas cuja encomenda será retirada.
O casal de pintores decide-se a ir para o Brasil, até porque as notícias sobre uma possível invasão de Portugal pelo exército alemão não são de molde a os sossegar.
Em Brasil serão recebidos de braços abertos, recebendo passaportes diplomáticos, que substituem os de apátridas emitidos pela Sociedade das Nações, tendo mesmo recebido uma proposta de naturalização do governo.
Residirão no Rio de Janeiro até 1947, pintando, expondo e ensinando, regressando Vieira da Silva primeiro que o marido, retido pelos seus compromissos académicos.
É a época em que Vieira da Silva começa a ser reconhecida. O estado francês compra-lhe La Partie d'échecs, um dos seus quadros mais famosos. Vende obras suas para vários museus, realiza tapeçarias e vitrais, trabalha em gravura, faz ilustrações para livros, cenários para peças de teatro.
Expõe em todo o mundo e ganha o Grande Prémio da Bienal de São Paulo de 1962, e no ano seguinte o Grande Prémio Nacional das Artes, em Paris,
Em 1956, foi-lhe dada a naturalidade francesa.
Fontes:José Augusto França- A Arte em Portugal no Século XX,Lisboa, Bertrand, 1974

Quadro de Vieira da Silva (1908-1992), pintado no Brasil e parte de um grupo de quadros que abordaram a temática da guerra e da violência.
O chamado período brasileiro (1940-1947), época em que Helena Vieira da Silva e o seu marido, Arpad Szenes, viveram no Rio de Janeiro, caracteriza-se pelo regresso à figuração abandonando, por um tempo, o abstraccionismo, sendo por isso considerado um período de reflexão na obra da pintora,
Vieira da Silva morreu em 6 de Março de 1992, em Paris.


por Marina Bairrão Ruivo

Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992), pintora de origem portuguesa, nasceu em Lisboa, no seio de uma família que cedo estimulou o seu interesse pela pintura, pela leitura e pela música, filha única de Marcos Vieira da Silva e Maria da Silva Graça. Os três primeiros anos da sua vida são pontuados por viagens a França e Inglaterra, e em 1910, a doença do pai leva-os a Leysin, na Suíça. Após a morte do pai, em 1911, Vieira e a mãe regressam a Portugal onde cresce num ambiente intelectualmente rico mas frequentado quase exclusivamente por adultos. No final do Verão de 1913, depois de uma estadia de dois meses em Inglaterra marcada pela descoberta dos museus e do teatro de Shakespeare, Vieira recorda ter decidido tornar-se pintora. Depois de ter estudado desenho, pintura e escultura em Lisboa, vai para Paris em 1928, insatisfeita com o ensino ministrado na Escola de Belas Artes de Lisboa, num período politicamente instável face ao avanço do fascismo e culturalmente pouco estimulante. Em Paris deslumbra-se com a agitação da capital francesa num período rico na partilha de ideias por parte de artistas plásticos, escritores, músicos e bailarinos. Frequenta espectáculos, museus e galerias. Hesitando entre pintura e escultura, frequenta na Academia da Grande Chaumière as aulas de escultura de Bourdelle que era, à época, assitido por Germaine Richier e Alberto Giacometti, e de Despiau na Academia Scandinave, abandonando esta técnica em 1929 para se dedicar exclusivamente à pintura. Trabalha então com Dufresne, Waroquier e Friez e inicia-se na gravura no Atelier 17 de Hayter onde se concentra nas pesquisas de representação do espaço. Frequenta também as aulas de Fernand Léger e de Bissière nesta fase de intensa descoberta e experimentação. No Verão de 1928 faz uma viagem de estudo a Itália que vai marcar definitivamente as suas pesquisas plásticas, ficando especialmente impressionada com Siena e a pintura pré-renascentista. Em 1930 casa-se com o pintor de origem húngara, Arpad Szenes (1897-1985), que conhecera na Academia da Grande Chaumière, perdendo a nacionalidade portuguesa. Torna-se pouco depois apátrida quando por sua vez Arpad Szenes perde a nacionalidade húngara. Pintora de temas essencialmente urbanos, a sua pintura revela, desde muito cedo, uma preocupação com o espaço e a profundidade. Em 1932 conhece Jeanne Bucher, que desempenha um papel decisivo na sua carreira, iniciado com a organização da sua primeira exposição individual no ano seguinte. É por seu intermédio que Vieira da Silva descobre a pintura de Torres-García que a marca profundamente. Em Portugal, as suas obras são vistas pela primeira vez em 1935, na Galeria UP, numa exposição organizada por António Pedro. No ano seguinte, Vieira da Silva expõe com Arpad Szenes no seu atelier de Lisboa. Num momento em que se teme o crescimento do fascismo na Europa, o casal reúne-se regularmente, até ao início da Segunda Guerra, no Café Raspail, com um grupo de artistas e intelectuais de esquerda, para discutir arte e política sob o nome de «Amis du monde». Em 1938 abandona a Villa des Camélias – residência do casal desde 1930 - e instala-se na casa-atelier do Boulevard Saint-Jacques onde convive com Alberto Giacometti, Jean Lurçat, Jacques Lipchitz, e Etienne Hajdu, entre outros. Em 1939, pressionada pelas circunstâncias, deixa Paris, ficando os seus trabalhos e atelier à guarda de Jeanne Bucher. Após uma curta temporada em Lisboa onde Vieira tenta, em vão, reaver a nacionalidade portuguesa e que esta seja atribuída ao marido, parte com Arpad para o Brasil em 1940 onde permanece até 1947. O casal fixa-se na Pensão Internacional, em Santa Teresa, local que se torna um centro de cultura e permuta de ideias. Aí convive com intelectuais e artistas como Cecília Meireles e Murilo Mendes, entre outros. O seu desenraizamento mas sobretudo a angústia da guerra reflectem-se na sua pintura. Vieira ressente-se do clima e da distância e a obra deste período reflecte, em parte, as suas inquietações: a guerra, o absurdo do Homem, a saudade. Expõe no Museu Nacional de Belas Artes (1942) e na galeria Askanazy (1944), no Rio de Janeiro. Após a reserva da crítica brasileira, é a vez de Paris ver os trabalhos de Vieira no Salon des Réalités Nouvelles de 1945. No ano seguinte, Jeanne Bucher organiza a sua primeira exposição individual em Nova Iorque, na Marian Williard Gallery. 1947 marca o regresso a Paris e o progressivo reconhecimento do seu trabalho, reforçado pela aquisição de La partie d’échecs pelo Estado francês, em 1943, e pela monografia que lhe é dedicada em 1949, por Pierre Descargues, editada pelas Presses Littéraires de France, na colecção «Artistes de ce Temps». Inicia-se, na década de 50, a participação em exposições importantes em França e no estrangeiro (Estocolmo 1950, Londres 1952, São Paulo 1953, Basileia e Veneza 1954, Caracas 1955, Londres 1957, Kassel 1959, entre outras) e a sua pintura toma um lugar de primeiro plano. O final da década é marcado pelo profundo envolvimento de Vieira e Arpad com as suas pesquisas plásticas. Constroem uma casa-atelier na rue de l’Abbé-Carton para onde se mudam em 1956, ano em que Vieira e Arpad obtêm a nacionalidade francesa. O Estado francês adquire obras suas e atribui-lhe várias condecorações, sendo a primeira em 1960 (Chevalier de l’Ordre des Arts et des Lettres). Vieira da Silva acumula vários prémios internacionais. A partir de 1958 organizam-se retrospectivas da sua obra: Hanover e Bremen 1958, Grenoble e Turim 1964, e em 1969-1970 em Paris, Roterdão, Oslo, Basileia e Lisboa (Fundação Calouste Gulbenkian). Em Portugal, Vieira da Silva expõe na Fundação Calouste Gulbenkian em 1977, na galeria EMI-Valentim de Carvalho em 1984 e na galeria 111 em 1985. Em 1983, o Metropolitano de Lisboa propõe-lhe a decoração da estação da Cidade Universitária. Vieira da Silva escolhe uma obra de 1940, Le Métro, para reproduzir em azulejos e conta com a colaboração do pintor Manuel Cargaleiro. Em 1985 Arpad Szenes morre. Vieira confessa perceber melhor a pintura do marido agora, após a sua morte, e retoma a sua pintura. Em 1988 o Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian e o Centre Nacional des Arts Plastiques apresentam, em Lisboa e em Paris, uma importante exposição das suas obras. Nessa ocasião, é condecorada pelo Estado português e pelo Estado francês. Em 1989, a Casa de Serralves no Porto organiza uma exposição de obras de Vieira da Silva e de Arpad Szenes nas colecções portuguesas. Em 1990, em Lisboa, é criada a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva cujo Museu, dedicado à obra dos dois pintores, foi inaugurado em 1994. Em 1991, a pedido da pintora, é fundado o Comité homónimo, em Paris. Vieira da Silva morre a 6 de Março de 1992, em Paris. O Catálogo Raisonné da sua obra foi lançado na Fundação no mesmo ano. Pintora da Segunda Escola de Paris, Maria Helena Vieira da Silva teve um papel fundamental no panorama da arte internacional.

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