domingo, 18 de março de 2007

Elis Regina


Elis Regina Carvalho Costa (Porto Alegre, 17 de março de 1945São Paulo, 19 de Janeiro de 1982) foi uma cantora brasileira.

A jovem ElisElis Regina nasceu na capital no Rio Grande do Sul, onde começou a carreira como cantora aos onze anos de idade em um programa de rádio para crianças chamado O Clube do Guri, na Rádio Farroupilha, apresentado por Ari Rego. Sobre o começo da carreira de Elis e a disputa entre quem de fato a lançou, o produtor Walter Silva disse à Folha de S. Paulo ([1]): "Poucas pessoas sabem quem realmente descobriu Elis. Foi um vendedor da gravadora Continental chamado Wilson Rodrigues Poso, que a ouviu cantando menina, aos quinze anos, em Porto Alegre. Ele sugeriu à Continental que a contratasse, e em 1962 saiu o disco dela. Levei Elis ao meu programa, fui o primeiro a tocar seu disco no rádio. Naquele dia eu disse: Menina, você vai ser a maior cantora do Brasil. Está gravado."

Década de 60
Em 1959 foi contratada pela Rádio Gaúcha, e em 1961 viajou ao Rio de Janeiro, onde gravou o primeiro disco, Viva a Brotolândia. Lançou ainda mais três discos, enquanto morava em Porto Alegre.
Em 1964, um ano com a agenda lotada de espetáculos no eixo Rio-São Paulo, assinou um contrato com a TV Rio para participar do programa Noites de Gala; é levada por Dom Um Romão para o Beco das Garrafas sob a direção de Luís Carlos Miéle e Ronaldo Bôscoli, com os quais ainda realizaria diversas parcerias, e um casamento com Bôscoli em 1967. Acompanhada agora pelo grupo Copa trio, de Dom Um, canta no Beco das Garrafas e conhece o coreógrafo americano Lennie Dale, que ensinou a Elis a mexer o corpo para cantar, tirando aquele nado que ela tinha com os braços.




Participa do espetáculo Fino da Bossa organizado pelo Centro Acadêmico da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo, que ficou conhecido também como Primeiro Demti-Samba, dirigido por Walter Silva, no Teatro Paramount, atual Teatro Abril (São Paulo). Ao final do mesmo ano (1964) conhece o produtor Solano Ribeiro (TV Excelsior), que viria a ser a primeira paixão. Um ano glorioso, que ainda traria a proposta de apresentar o programa O Fino da Bossa, ao lado de Jair Rodrigues. O programa, gravado a partir dos espetáculos e dirigido por Walter Silva, ficou no ar até 1967 (TV Record, Canal 7, SP) e originou três discos de grande sucesso: um deles, Dois na Bossa, foi o primeiro disco brasileiro a vender um milhão de cópias.
Em 1965, venceu o Festival de Música Popular Brasileira (TV Excelsior-Canal 9, de São Paulo) e recebeu o Prêmio Berimbau de Ouro, interpretando a canção Arrastão, (Edu Lobo e Vinicius de Moraes), lançando-se nacionalmente. Dada a importância do festival, a audiência alcançada pela emissora, a apresentação foi um marco na carreira, consagrando-a como uma estrela da MPB. O prêmio Roquette Pinto veio na sequência alegendo-a a Melhor cantora do ano. A carreira em meteórica ascensão, possibilitou o lançamento do primeiro LP individual, Samba eu canto assim (Cbd, selo Philips). Pioneira, em 1966 lançou o selo Artistas, gravando o primeiro disco independente produzido no Brasil, entitulado Viva o Festival da Música Popular Brasileira, gravado durante o festival.


Mais uma vitoriosa participação no III Festival de Música Popular Brasileira (TV Record), a canção O cantador (Dori Caymmi e Nelson Motta), classificando-se para a finalíssima e reconhecida com prêmio de Melhor Intérprete.





Em 1968, uma viagem à Europa a lança no eixo musical internacional, conquistando grande sucesso, principalmente no Olympia de Paris, aonde se tornou a primeira artista a se apresentar lá duas vezes no mesmo ano.

Década de 70 e 80Durante os anos 70, aprimorou constantemente a técnica e domínio vocal, registrando em discos de grande qualidade técnica parte do melhor da sua geração de músicos.
Patrocinado pela Philips na mostra Phono 73, com vários outros artistas, deparou-se com uma platéia fria e indiferente, distância quebrada com a calorosa apresentação de Caetano Veloso: "Respeitem a maior cantora desta terra". Em julho lançou Elis.
Em 1975, com o espetáculo Falso Brilhante, que mais tarde originou um disco homônimo, atinge enorme sucesso, ficando mais de um ano em cartaz e realizando quase 300 apresentações. Um dos mais bem sucedidos espetáculos na história da MPB, tornou-se um marco na carreira.
Ainda teve grande êxito com o espetáculo Transversal do Tempo, em 1978, de um clima extremamente político e tenso; o Saudades do Brasil, em 1980, sucesso de crítica e público por sua originalidade, tanto nas canções quanto nos números com dançarinos amadores e, o seu último espetáculo, Trem Azul, em 1981.




Em 1980 gravou o especial Mulher 80, para a Rede Globo. O programa exibiu uma série de entrevistas e musicais cujo tema era a Mulher e a discussão do papel feminino na sociedade de então. O programa abordava esta temática no contexto da música nacional e da inegável preponderância das vozes femininas na MPB; com Maria Bethania, Fafá de Belém, Zezé Motta, Marina Lima, Simone, Rita Lee, Joana, Gal Costa.

Segundo a análise de alguns, notabilizou-se pela primazia técnica, uniformidade e qualidade musical. Foi Elis quem também lançou boa parte dos grandes nomes da MPB, como Milton Nascimento, Renato Teixeira, Gilberto Gil João Bosco e Aldir Blanc, Sueli Costa, entre outros. Seu grande admirador, Milton Nascimento a elegeu musa inspiradora e a ela dedicou inúmeras composições.







Desde que foi descoberta trilhou uma carreira de grande sucesso de público e crítica, unindo técnica e perfeccionismo, à emoção e energia, típicas das apresentações. É até hoje considerada a mais completa cantora brasileria de todos os tempos.

Anos de chumboElis Regina criticou muitas vezes a ditadura brasileira, que perseguiu e exilou muitos músicos em sua época, seja por meio de declarações públicas ou pelas canções que interpretava. Em entrevista, no ano de 1969, declarou que o Brasil era governado por gorilas (Há controvérsias em relação a essa declaração. Existem arquivos dos próprios militares onde ela se justifica dizendo que isso foi criado por jornalistas sensacionalistas). Sua popularidade a manteve fora da prisão, mas foi obrigada pelas autoridades a cantar o Hino Nacional durante um espetáculo em um estádio, fato que despertou a ira da esquerda brasileira.


Sempre engajada politicamente, Elis participou de uma série de movimentos de renovação política e cultural brasileira, destacando a Marcha contra as guitarras, ainda nos anos 60, ao lado de artistas como Gilberto Gil e outros, ainda participou ativamente da campanha pela anistia política de exilados brasileiros. Consagrou a interpretação de O bêbado e a equilibrista (João Bosco e Aldir Blanc), a qual vibrava como o Hino da Anistia. A canção coroou a volta de personalidades brasileiras do exílio, a partir de 1979. Um deles, citado na música, era o irmão do Henfil, o Betinho, importante sociólogo brasileiro.


Outra questão importante se refere ao direito dos músicos brasileiros, polêmica que Elis encabeçou, participando de muitas reuniões em Brasília. Além disso, foi presidente da Assim, Associação de Intérpretes e de Músicos.

Últimos momentosEm meio a uma grande comoção nacional, faleceu aos 36 anos de idade em 19 de janeiro de 1982, devido a complicações decorrentes de uma overdose de drogas, tranquilizantes e bebida alcoólica. Foi sepultada no Cemitério do Morumbi. "Choram Marias e Clarices...Chora a nossa pátria mãe gentil. Em busca de um sol maior, Elis Regina embarcou num brilhante trem azul, deixando conosco a eternidade de seu canto pelas coisas e pela gente de nossa terra. E uma imensa saudade"´´. - Agência de Publicidade.


Elis é mãe de João Marcelo Bôscoli, filho do casamento com o músico Ronaldo Bôscoli, e de Pedro Camargo Mariano e Maria Rita, filhos do pianista César Camargo Mariano. Os três enveredaram pelo ramo da música.

Discografia

Discos de carreira
Viva a Brotolândia (1961) - primeiro LP (na Continental, atual div. da Warner) - aos dezesseis anos de idade.
Poema de Amor (1962) Continental
Elis Regina (1963) (na CBS, atual Sony&BMG)
O Bem do Amor (1963) (na CBS, atual Sony&BMG)
Samba - Eu Canto Assim (1965) (de 1965 a 1979: na Cia. Brasil. de Discos - Philips, PolyGram, atual Universal Music)
Dois na Bossa (1965)
O Fino do Fino (1965)
Dois na Bossa nº 2 (1966)
Elis (1966)
Dois na Bossa nº 3 (1967)



Elis Especial (1968)
Elis - Como e Porque (1969)
Elis Regina & Toots Thielemans (1969) - gravado na Suécia
Elis Regina in London (1969)
Em Pleno Verão (1970)
Elis & Miele no Teatro da Praia(1970) - show
Ela (1971)
Elis (1972)
Elis (1973)
Elis & Tom (1974) Em 2004, a Trama lançou uma edição em DVD de Áudio 5.1 com duas faixas bônus.
Elis (1974)
Falso Brilhante (1976) Em 2007, a Trama lançou uma edição em DVD de Áudio 5.1.
Elis (1977)
Transversal do Tempo (1978)
Elis Especial (1979)
Essa Mulher (1979) Warner
Saudade do Brasil (1980) Warner - Álbum Duplo
Elis (1980) EMI. A reedição em CD de 2002 inclui 4 faixas bônus. Em 2006, a Trama lançou edição remixada, com bônus instrumentais e acapella.

Lançamentos póstumos
Montreux Jazz Festival(1982) Warner - registro da apresentação em 1979. A reedição em CD de 2001 inclui 6 faixas bônus.
Trem Azul (1982) Som Livre - registro do último show de Elis, em 1981, gravado ao vivo.
Luz das Estrelas (1984) Som Livre - voz de Elis em programa de TV da década de 70 e arranjos de 1984.
Elis Regina no Fino da Bossa (1994) Velas - caixa comemorativa com três CDs de gravações ao vivo daquele programa de televisão, entre os anos de 1965 e 1967.
Elis ao Vivo (1995) Velas - Show no Anhembi (1977).
Elis Vive (1998) Warner - Show no Anhembi (1979).

Outros lançamentos, contendo registros exclusivos
Música Popular do Sul 1 (1975) CD. Discos Marcus Pereira - Compositores e intérpretes gaúchos. Elis canta 4 canções: Boi Barroso, Alto da Bronze, Porto dos Casais e Os Homens de Preto.
Compacto 12056 (1980) Vinil. Elektra/Warner. Alô, Alô Marciano (versão que fez sucesso nas rádios, nunca lançada em CD) e No Céu da Vibração (disponível em CD na coletânea Arquivo Especial, de 1995).
Raul Ellwanger (1980) Vinil. Bandeirantes Discos/WEA. Participação especial na faixa O Pequeno Exilado.
Fascinação - O Melhor de Elis Regina (1988) CD. Philips (Universal) - coletânea de sucessos que inclui sua última gravação em estúdio, Me Deixas Louca, de 1981, lançada originalmente no LP da trilha Sonora da novela Brilhante, da TV Globo. O fonograma pertence à Som Livre, com quem a cantora assinara contrato para gravar um novo álbum, o que sua morte impediu.
O Grito (1975) CD. Som Livre - trilha sonora de O Grito (telenovela), que inclui Um Por Todos com letra e instrumental diferentes das apresentadas no álbum Falso Brilhante.
20 Anos de Saudade (2002) CD. Universal - coletânea de gravações de diversos compactos e participações em outros discos coletivos das décadas de 60 e 70.
Pérolas Raras (2006) CD. Universal - coletânea de gravações de diversos compactos e participações em outros discos coletivos das décadas de 60 a 80.

Videografia

VHS
Elis (1988) Compilação de imagens do arquivo da Rede Bandeirantes. Editado por Rogério Costa. Cores. VideoBan.

DVD
Programa Ensaio Elis Regina (2004) TV Cultura-SP, 1973: entrevista e números musicais. Direção de Fernando Faro. P&B. Trama.
Grandes Nomes Elis Regina Carvalho Costa (2005) TV Globo, outubro de 1980. Direção de Daniel Filho. Inclui entrevista com o diretor. Cores. Som Livre/Trama.
Programa Jogo da Verdade (2006) TV Cultura-SP, janeiro de 1982. Última entrevista da cantora, gravada dias antes de sua morte. Este DVD compõe o pack de lançamento do CD Elis, de 1980, seu último álbum, agora remixado. Inclui fotos do show Trem Azul, de 1981, o último de sua carreira. Cores. Trama.

DVD - Aparições EspeciaisPhono 73 O Canto de um Povo (2005) Phonogram (Universal), 1973: Elis interpreta Cabaré, ao vivo no Anhembi-SP. Direção de Fernando Faro. Cores. Universal.

Bibliografia
KIECHALOSKI, Zeca (1984) Elis Regina. Col. Esses Gaúchos. Porto Alegre: Tchê! 101p.
ECHEVERRIA, Regina (1985) Furacão Elis. Inclui cronologia e discografia por Maria Luiza Kfouri. Rio de Janeiro: Nórdica / Círculo do Livro. 363p. 2.ed. rev. ampl. 1994 (São Paulo: Ed. Globo); 3.ed. 2002 (São Paulo: Ed. Globo). 239p. ISBN 8525035149. (*)
Elis Regina Por Ela Mesma. (1995) Org. Osny Arashiro. São Paulo: Martin Claret. 2.ed. rev. 2004. 229p. ISBN 8572320857.
O Melhor de Elis Regina. (2003) Melodias cifradas com as letras de 28 músicas do repertório de Elis Regina. Ed. Irmãos Vitale. 112p. ISBN 8574070882.
SARSANO, José Roberto. (2005) Boulevard des Capucines. Teatro Olympia, Paris 1968: Elis Regina e Bossa Jazz Trio em uma época de ouro da MPB. Ed. Árvore da Terra. 207p. ISBN 8585136294.

Ligações externas

O Wikiquote tem uma coleção de citações de ou sobre: Elis Regina.
Biografia de Elis Regina
Discografia de Elis Regina
Morte de Elis Regina assinalada em Lisboa e no Porto
Os 25 anos da morte da cantora brasileira Elis Regina vão ser assinalados com três espectáculos a realizar em Lisboa e no Porto, nos quais serão lembrados todos os seus sucessos, foi hoje anunciado.
«Fascinação», «Romaria», «Casa no Campo», «Bebendo», «Como os Nossos Pais» e «Trem Azul» serão alguns dos temas que vão subir ao palco do teatro Tivoli, em Lisboa, nos dias 23 e 24 de Março.
No Porto, o espectáculo realiza-se no dia 29 de Março, no Teatro Sá da Bandeira.
Ao longo de 90 minutos serão interpretadas as canções de Elis Regina e revividas imagens, vídeos e depoimentos da cantora brasileira.
Diário Digital / Lusa
18-03-2007 10:36:34

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