domingo, 4 de março de 2007

Paula Castro- bailarina

Quinta-feira, Janeiro 25, 2007
Faleceu hoje de manhã, aos 38 anos, a coreógrafa e bailarina Paula Castro, vítima de doença prolongada. Formada pelo Conservatório Nacional de Dança, e bolseira do Théàtre Contemporain de la Danse, trabalhou como intérprete com vários coreógrafos portugueses, Rui Nunes, Joana Providência, Aldara Bizarro, Madalena Vitorino, Paula Massano, João Galante e Teresa Prima, Vera Mantero, Francisco Camacho e Filipa Francisco, para além de ter criado Sem Título, Ever Wanting, Vertigem e Nevoeiro (co-autoria de Sandra Faleiro).
Hospitalizada há já algum tempo Paula Castro mantinha ainda assim uma intensa actividade, tendo apresentado, em nova versão, Pequenas grandes Histórias no programa Let's Dance, no passado mês de Setembro no Teatro Camões. Amigos como as coreógrafas Teresa Prima e Aldara Bizarro, o performer Rafael Alvarez, a actriz Carla Bolito, o programador Mark Deputter ou a directora do Fórum Dança Cristina Santos, são unânimes no reconhecimento de uma vontade em “não se deixar invadir pela ameaça da grave doença que a atingiu”. Carla Bolito recorda que, nas últimas semanas, já no hospital, era a própria Paula Castro que lhes dizia no fim das horas das visitas “divirtam-se”.Este humor, “mal compreendido, aguçado e muito sarcástico”, diz Rafael Alvarez, resultante de uma vida crente numa “utopia muito própria” refere Cristina Santos, mas “nada lírica”, acrescenta Carla Bolito, são, nas palavras de Teresa Prima, características que definiam a “excepcional” e “rara intérprete”. “Eu gosto é de te ver dançar!”, disse-lhe uma vez Aldara Bizarro querendo referir-se à sua “dança muito particular”.Cristina Santos, que a conhecia há vinte anos, e Aldara Bizarro, que com ela trabalhou, referem ainda a expressividade de Paula Castro como uma das marcas mais reconhecíveis da sua imagem enquanto artista. Aldara lembra-se de a ver, desde os dezasseis anos, a seguir as aulas dos professores de dança clássica, “com o seu fatinho de lã preta e os calções de meia perna” a cobrirem um corpo “pequeno, mas de mãos e pés enormes”. Era na cara, de uma “expressividade muito particular”, que se concentrava a energia desta bailarina, reconhecida unanimemente como um exemplo de resistência, “que não se acomodava a trabalhos mais fáceis ou mais seguros”, diz Cristina Santos.Teresa Prima e Rafael Alvarez, que partilharam com Paula Castro “amores e a cidade de Nova York”, falam desta “pessoa especial”, da “grande perda” que agora sentem e do “exemplo inspirador de sobrevivência”. Uma posição que se manifestava no trabalho “determinado e rigoroso”, mais reconhecido enquanto intérprete do que como coreógrafa, com “coisas boas e outras duras”, recorda Aldara Bizarro.Era uma “estranha forma de viver” a desta criadora, diz Carla Bolito que a acompanhou nas últimas semanas. Com um trabalho “onírico” e “perto dos sonhos”, Paula Castro foi construindo um percurso que Mark Deputter, programador do Teatro Camões e do Alkantara, assinala como “muito seu”. Deputter, que recentemente a convidou a integrar a plataforma coLABoratóRIO – Encontro Sul-Americano Europeu de Coreógrafos, no Rio de Janeiro, fala de uma atitude “muito aberta, interessada em aprender e atenta aos pormenores”. A viagem, entretanto cancelada por causa do internamento hospitalar a que acabou por não resistir, seria “uma boa oportunidade para fazer evoluir o seu trabalho”, que o programador recorda como “calmo” e “sem querer tudo de uma vez”.Paula Castro deixa um percurso por cumprir mas, pelo qual, se bateu até ao fim. É essa resistência que os que lhe eram próximos vão guardar. Isso, o exemplo de persistência e, nas palavras de Teresa Prima, “a coragem em não aceitar as coisas como elas são”.
O funeral realiza-se amanhã às 15h30 com saída da Igreja das Furnas, em Benfica, dirigindo-se depois para o Cemitério de Benfica.
Na foto: Paula Castro na peça Riso, de Filipa Francisco



Sem comentários: