sábado, 3 de março de 2007

As mulheres, o poder e a diferença



Guilhermina Marreiros


Procuradora da República - Assessora do Gabinete do Procurador-Geral da República



"Só ocorrerá uma mudança se as mulheres, totalmente conscientes dos seus direitos e responsabilidades, em todos os níveis, expressarem as suas convicções colectivamente. Esta será verdadeiramente uma voz diferente: uma voz que vai procurar integrar em vez de excluir, uma voz que vai estimular a convergência em vez da separação, que vai abandonar direitos abstractos para substitui-los por capacidades vividas, uma voz que coloque a justiça directamente nas mãos daqueles que têm a capacidade de cuidar dos outros". (1)
Hoje, que se comemora o Dia Internacional da Mulher, ocorre reflectir sobre os avanços da luta que as mulheres vêm desenvolvendo ao longo de séculos sempre norteadas, quaisquer que sejam as formas através das quais se manifestam, por ideais de liberdade, justiça e igualdade.
Os ganhos são notáveis se nos contentarmos com o reconhecimento formal de direitos, com uma política de pacificação apostada em esbater os conflitos e a discriminação através de "recomendações" e "declarações".
Mas são irrisórios se pensarmos no grau de participação que temos na gestão da vida política e na condução da sociedade que somos.
E é inquietante a percepção de que as condições de vida se degradam e que urge encontrar o equilíbrio, um equilíbrio que passa pelo esforço conjugado e empenhado de todos.
A voz (diferente) que é a nossa, mas também o saber que temos, a sensibilidade que formos capazes de imprimir ao gesto e à obra que somos capazes de empreender, de uma forma abrangente e convergente, são instrumentos bastantes para transformar a sociedade, tornando-a num espaço onde importa cuidar de todos, mas onde o próprio espaço tem de ser preservado, não só em nome da geração presente, mas também das gerações vindouras.
Nesta perspectiva, e para que a mudança aconteça, urge tornar real e efectiva a participação activa das mulheres, o que dependerá mais do modo como nos organizarmos colectiva e solidariamente do que de concessão alheia.
Lisboa, 8 de Março de 1999



Nota: (1) Excerto extraído do Relatório da Comissão Independente sobre População e Qualidade de Vida, Comissão presidida por Maria de Lourdes Pintasilgo, e composta por 18 individualidades, de outros tantos países, em igual número do Norte e do Sul, com composição paritária - gual número de mulheres e de homens.

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