sábado, 3 de março de 2007

Bertha Pappenheim


Bertha Pappenheim, nascida em Viena, Áustria, em 1859 e falecida em Iselberg, Alemanha, em 1936. assistente social, escritora e líder do movimento feminista alemão, é reverenciada pelos judeus por seu extraordinário esforço em prol das mulheres judias que viviam na Europa em condições humilhantes de exclusão social inclusive religiosa, de miséria e desamparo moral. A terceira filha entre quatro crianças, Bertha cresceu em uma família de judeus ortodoxos abastados, como havia muitas em Viena em meados do século XIX. Ressentiu-se de não ter recebido a mesma educação dispensada pelos pais ao irmão caçula, e de ter sido tratada apenas como "mais uma menina". Sua formação ficou restrita ao estudo em um colégio feminino católico até os 16 anos, uma vez que a universidade de Viena não admitia mulheres. Lamentava a linha doméstica reservada à educação da mulher, e por esforço próprio tornou-se fluente em francês, inglês e italiano, além de conhecer o alemão falado na Áustria, sua língua materna.
Sua personalidade sensível sofreu muito com a longa doença terminal de seu pai, e das tensões por que passou resultou um colapso nervoso marcado por sintomas variáveis, como depressão e nervosismo, tendência ao suicídio, paralisias, perturbações visuais, contraturas musculares, e outros distúrbios que a deixavam praticamente uma inválida, apesar de contar na época por volta de vinte anos. Foi levada a um dos vários médicos judeus que formavam a elite dos cientistas vienenses, exatamente a Josef Breuer, que a tratou de 1880-1882, e documentou o seu caso. Ele a submeteu ao que ela mesma denominou de "terapia de conversa", pois Breuer, que a havia submetido inicialmente a sessões de hipnose, descobriu depois que, dialogando com ela sobre sua vida, podia leva-la a relatar traumas de sua infância do mesmo modo que sob hipnose. Breuer ficou empolgado com a descoberta de que essas recordações faziam que a cliente se sentisse bem e desaparecessem os sintomas. Bertha Pappenheim teve, assim, um papel chave no desenvolvimento do método que Breuer denominou catarsis, e que viria ser o fundamento da futura Psicanálise.
Bertha foi posteriormente encaminhada por Breuer a Sigmund Freud, jovem médico judeu interessado em adotar as técnicas de Breuer no tratamento da histeria. Ele e Breuer referiram-se a Bertha no trabalho conjunto que publicaram como "Anna O."
Por vários anos Bertha lutou contra seu estado neurótico e esteve várias vezes internada de 1881 to 1887, com seus sintomas agravados por um dependência da morfina que fizera parte de sua medicação. Passando, em 1889, a residir com sua mãe em Frankfurt am Main, Bertha sofreu várias recidivas de sua condição neurótica, e foi várias vezes internada para tratamento. Porém, assumindo profundamente sua fé religiosa e sua vocação altruísta foi, aos poucos entregando-se ao trabalho social em prol da dignidade da mulher judia, o que aparentemente contribuiu para sua recuperação. Em Frankfurt foi assistente voluntária na distribuição de sopa aos pobres e desempregados, no socorro às várias levas de judeus que aportavam à cidade fugidos das perseguições e expurgos em países do Leste Europeu, e administradora de uma escola de enfermeiras e do orfanato de Frankfurt, além de escrever vários contos publicados anonimamente
Revoltada com o desfavorecimento da mulher na comunidade judia alemã, ela fundou a "Associação da mulher judia", a primeira organização judaica a lutar pelos direitos civis e religiosos da mulher. Ela considerava a exclusão da mulher do conhecimento, um pecado. Profundamente dedicada ao trabalho social, Bertha elegeu como objetivo de sua vida combater as más condições de vida das mulheres judias sem lar. Viajou por todo o Leste europeu, Grécia e Turquia, visitando bordeis onde mulheres judias desamparadas eram forçadas a trabalhar. Buscava o auxílio de médicos, trabalhadores sociais e da polícia
Em um livro de contos de 1890, intitulado "Na loja de segunda mão", sob o pseudônimo de Paul Berthold (com certeza lhe pareceu que um nome masculino traria mais crédito para sua obra), Bertha expressou sua preocupação com as crianças os pobres, e a justiça social. Sua paixão pelo feminismo e pela justiça social ganharam expressão na sua peça teatral, "Direitos da Mulher", escrita 1899 e a levou a publicar a tradução para o alemão do livro da feminista anglo-irlandesa Mary Wollstonecrafts, A Vindication of the Rights of Woman ("Uma defesa dos direitos da mulher"), publicado em 1792, o primeiro argumento político em favor da igualdade de tratamento dos sexos, expondo a dependência psicológica e econômica da mulher em relação ao homem e sua exclusão da vida pública.
In 1902, Pappenheim fundou Weibliche Fürsorge ("Assistência da Mulher") em Neu-Isenburg, a menos de 10 km. ao sul de Frankfurt, uma instituição igual às que já existiam para homens carentes, destinada a colocar órfãs em lares adotivos, educar mães a cuidar dos bebês, e dar orientação vocacional e oportunidades de emprego para moças. Aboliu o castigo físico e o uso de uniformes em sua instituição e cuidava para que o conhecimento das tradições judaicas relativa a datas religiosas e deveres religiosos da família fosse um elemento central no treinamento. Fez campanha junto aos chefes das comunidades judaicas compelindo-os a atacar os efeitos da pobreza e da migração da mulher judia e de seus filhos. O seu foi o primeiro abrigo e lar coletivo para mães solteiras e suas crianças, e meninas salvas da prostituição, instituição que ela dirigiu por 29 anos, ajudando pessoalmente milhares de mulheres.
Em 1904, agregando a si outras ativistas, fundou a Juedischer Frauenbund, , da qual foi a presidente por vinte anos.
Bertha Pappenheim ganhou projeção internacional pelo seu trabalho de ajuda e educação vocacional e conseguiu ajuda nacional e internacional para sua causa como fundadora e líder da Liga das Mulheres Judias. Viajou ao Oriente Médio, Europa e Rússia, investigando e pregando contra a prostituição e o comércio de escravas brancas, temas de uma de suas publicações mais conhecidas, Sisyphus Werk (O trabalho de Sisifus), em alusão ao trabalho incansável do herói grego que persistentemente empurrava uma pedra para o alto da montanha, quantas vezes essa voltasse a rolar montanha abaixo.
A Liga denunciou o tráfego de mulheres, especialmente no Leste europeu e trabalhou para reforçar a proteção legal à mulher, para promover o tratamento igualitário com os homens em todos os setores sociais, e para dar oportunidade de modo a que a mulher pudesse alcançar realização pessoal e independência financeira.
Em 1910 Bertha publicou dois trabalhos, "O problema judeu na Galicia" e "Sobre a condição da população judia na Galícia" relacionando o baixo nível de educação com a pobreza entre as meninas judias.
Alem de publicar o periódico da Liga das Mulheres, Bertha traduziu em alemão moderno, em 1910, as "Memórias de Gluekl von Hameln", um seu parente remoto. In 1913 e 1916, respectivamente, publicou a peça teatral "Momentos Trágicos" e várias pequenas histórias abordando temas relativos ao status da mulher face ao Judaísmo, anti-semitismo, and assimilacionismo.
Após deixar, por motivo de saúde, a presidência da Liga das Mulheres, Bertha traduziu o Maaseh Buch, uma coleção de narrativas judaicas tradicionais; o Ze'enah u-Re'enah, uma bíblia seiscentista da mulher, de Isaac Ashkenazi, que viveu em Janow, na Polônia, cerca de 1590; os cinco Megillot, que são o livro de Ester, o livro de Ruth, o Cântico dos Cânticos, o Eclesistes e o Lamentações; e o Haftarot, uma seleção de textos dos profetas lidos em ocasiões especiais. Por época de sua morte, em 1936, cerca de 1,500 jovens já haviam passado pela sua Instituição em Neu Isenburg. Pouco depois o edifício foi queimado, durante a Kristallnacht (Noite dos Cristais), em que os nazistas queimaram e destruíram as propriedades dos judeus na Alemanha, em Novembro de 1938, e em 1942 os funcionários e as crianças foram deportados para os campos de extermínio.

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